Florais não é florzinha
O uso do modo diminutivo nas palavras é uma prática que denuncia o quanto para alguém aquele gesto, ou aquela pessoa, ou situação, reside no cenário da infância. Residir neste lugar é mandatório para a alma, porque é lugar de pureza e autenticidade, mas é delicado e ambivalente quando acontece no exercício da profissão.
Assisto muitas vezes, expressões pueris de profissionais da saúde dirigindo-se a idosos com diminutivos, como se estivessem diante de crianças de 3 anos de idade, ou a mulheres gestantes como se fossem “grandes nutrizes andantes”, e assim, atuam desconhecendo e minando a força e equilíbrio necessários `aqueles seres que estão a experienciar um significativo “ponto de viragem” em suas vidas.
No exercício da Floriterapia, o termo “floralzinho” ou “ gotinhas” me doem os ouvidos! Dr. Bach, certamente, nos ímpetos de sua natureza Impatiens, teria uma cefaléia brutal, ao presenciar a obra de sua vida ser referida no diminutivo.
A palavra no diminutivo é uma falácia do apelo em ser aceito, e assim, nessa aproximação inocente, tentar encontrar um lugar de apreciação. O dialogante também se coloca num lugar protegido de questionamentos, pois oferece umas “gotinhas”, um composto inocente, cuja falha não lhe fará mal, e o acerto magicamente irá derrotar seu sofrimento!
De há muito tempo busco terminologias que individualizem a Floriterapia, já que o empréstimo da linguagem de outros saberes coloca a minha atuação num lugar indefinido, obscuro e a meio caminho de outras práticas. Busco palavras que traduzam em seu significado a extensão do processo que se realiza no uso das essências florais. Termos que qualifiquem minhas ações como terapeuta floral, que nomeie a minha relação com um outro que me procura, que traduza como devo chamar as indicações e formulações que realizo para este outro, e tantas outras ações que são próprias e singulares a minha atuação profissional.
Os estudos de termos botânicos, alquímicos e as Conversações de Eckermann com Goethe( livro da editora Itatiaia,de nome homônimo) têm sido inspiradores para mim.
Quando existe uma linguagem própria, permite-se numa escuta imediata, identificar quem são aqueles que falam um determinado assunto. Assim, um lugar vai sendo construído, como os tijolos de base de uma casa que sustentará todo o resto e permitirá avaliar quão sólida e perene é aquela construção.
Na Floriterapia com dialeto próprio não caberá “gotinhas “ e “ florzinha”, pois a natureza na suavidade carrega verdadeiramente, códigos, que ocultam arquétipos a serem decifrados como verdadeiros hieróglifos. Eles, uma vez compreendidos, conduzem nossa alma a sala do trono, para que possamos finalmente compreender para que viemos, para onde vamos, e quem somos nas leis da natureza. Partilhamos Histórias,... não contamos histórias!
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